sábado, 26 de maio de 2012

2.1

"Não oblitero moscas com palavras.
Uma espécie de canto me ocasiona.
Respeito as oralidades.
Eu escrevo o rumor das palavras.
Não sou sandeu de gramáticas.
Só sei o nada aumentado.
Eu sou culpado de mim.
Vou nunca mais ter nascido em agosto.
No chão de minha voz tem um outono.
Sobre o meu rosto vem dormir a noite."
De Manoel Barros em "O Livro das Ignorãças".
Minha leitura pré-adolescente fazendo muito mais sentido em minha fase -quase- adulta.

quarta-feira, 23 de maio de 2012

Fui ver a cor de outro lugar. Fui experimentar do ar de uma nova cidade, de outra idade. Eu vi um pássaro ser livre. Vi um outro morrer. Senti o tal aroma da dama da noite (que deixa rastro por uma quadra inteira). Vi a "melhor idade" tomando espaço em praça pública com música. Vi violinista tocar Mozart em troca de pessoas que só pudessem ouvir. Entrelacei linhas pra um crochê e desfiz pontos pacientemente. Paciência essa, aliás, que adquiri depois de muito tempo. Eu vi a cor do dinheiro, senti sua textura, verbalizei a sua utilidade, engrandeci, por isso, o despojado. E por ser minimalista, recuei. Devolvi a dignidade tida como cédula, e antes disso, lutei pela satisfação em Reais. Eu senti a fúria de um frustrado. Devolvi como justo. Conheci gente o suficiente para afirmar em mim o sentimento de que não se deve subestimar as pessoas, principalmente pelo o que fala, veste e demonstra nos olhos. Contei o que tinha pra contar, contudo, o retorno foi dobrar essas histórias. Formulei, em ordem, todas as necessidades, todas as contas, todas as importâncias. E olha, saiu tudo como nunca fora planejado, que surpresa. Falando em surpresas, me surpreendi com a falta de educação e com um coração muito bom que apareceu. Podendo rever todos os lugares, podendo encontrar todos esses corações, podendo sentir de tudo um pouco, agraciado pela atenção que tive, por todas as coisas que pude, eu vi essa ilusão de papel em branco em cristal líquido e escrevi.

segunda-feira, 14 de maio de 2012

veja bem

Encontrei as duas faces da mesma personalidade.
As duas extremidades.
Fases extraídas das feições. Adquiridas no leito da descoberta.
Nascida do pacífico, naturalizada na confusão.
Torno a ver as duas faces em descrição.
No âmbito da vida; descoberta novamente e criação.
Razão, impulso, resignação.
Trépido, fugindo da multidão.
Alucinado, pedindo redenção.
Descaradas, duas faces em contramão.

sexta-feira, 11 de maio de 2012

miragem

Resgatei o ente querido, ferido.
Fiz uma aposta,
Desfiz.
Até me convencer
Que tempo é mar,
De ondas gigantescas
E peixes mortos e belos.
Fomos arrastados até o fim da vida,
Puxados por redemoinhos da miragem.
Nesse delírio da vida,
De tantos achados e perdidos,
E visões que podem ser dislexia.

Finda onda a qualquer lugar,
Deixe-se ser somente mar.
Calmo, frio e de vida apenas marinha.
E de águas que terminam à beira-mar.