segunda-feira, 27 de maio de 2013

sobre a vida e seu mistério

Se tudo é tanto, então nada sou. Nem poderia pretender ser nada. Se existe um uno dentro de mim, minha carne é casca de empoeiramentos sem fim. Aonde por dentro existe uma natureza que não termina, que é minha alma, minha calma, pedaço do que sou, enfim. Se saberei quem sou (?), também, creio que não saberei. Existe um mistério dentre nós, qual move a vida de diferentes formas. Minha experiência por aqui é a de me encobrir deste mistério, esse que, na verdade, já sou encoberto pelas vivências da vida. De maneiras diversas, surge de surpresa o que se chamaria de sinal, não do divino cristão, mas do divino interior. Divino sim, sagrado, que está coberto pelas verdades absolutas, as buscas por poderes menores que nós podemos nos sentir ser. Esse surgimento repentino de qualquer coisa que pode ser pequena e foge do entendimento, dando um ar do que se quer entender sobre a vida e o que é existir aqui e agora. Nunca é algo espetacular, notável no atual cenário social, mas é fascinante pelo pedaço de vida que carrega. Quem o percebe é sensível a si mesmo e a vida. Nunca é um objeto de estudo, mas de vivência, uma experiência sempre memorável e reflexiva. Se existe o micróbio do samba, existe o micróbio da vida, que quando se remexe dentro de nós, causa incômodo, náusea e parece querer nos fazer despertar pra algo maior. O que me incomoda me desperta interesse. A vida dói e se remexe feito o micróbio. Mas sinto que nada sei que possa dizer especificamente sobre o que é, só sinto mesmo. Foge do entendimento, pois não é nele que se encontra, por não conseguirmos nos expressar, contar essa história, pois ela é única pra cada um e, apesar de fugir do entendimento, é sentido e podemos pensar. Pensar em que? Eis a questão... acredito serem esses fragmentos de vida que vivenciamos nessa experiência. Como se voltasse aonde à vida nasceu, um lugar desconhecido. Enquanto ela acontece, tudo acontece, até o tempo passa de maneira que nunca senti passar antes. Cada fragmento é terno, mas duradouro. Ele quer que você chegue ao mais profundo de si. Ele não pretende, ele está ali para isso. Se encontrarmos os mistérios da vida no caminho que se segue pelo mundo e dentro de nós, esse, que só mesmo eu penso que sei do que falo, não cabe no entendimento fácil das coisas, pois, como penso, não se entende, mas se sente e se deixa guiar para dentro. Devemos acreditar na vida que é só nossa e que, apesar de desconhecermos, sabemos que é nossa, que é parte de uma experiência individual e única. Chamariam de loucura, mas eu chamaria de náusea (como Jean Paul Sartre), de despertar, de individualidade. A verdade aqui é que pouco me importa o nome que poderia dar ao que vida se revela para mim. Pois não está nas vitrines e catálogos, muito menos na boca das pessoas. Talvez esteja acima das nuvens aonde me sinto estar vez ou outra, acompanhando o viver estático das pessoas e a natureza das plantas e da vida que não se pode também simplesmente explicar com um respaldo cientifico. Quando nasci, acidentalmente ou não, engoli esse mistério que não vem à boca, mas talvez se encontre em alguns olhares. Ele se espalhou por mim e está entranhado em minhas artérias, meus pulmões e coração. Mas me parece que ele não envelhece, ao contrário de minha casca, pele, expressão, ele se rejuvenesce a cada fragmento que encontro pelo caminho que traço minha vida. Se torna novo e se torna muito, tanto que não se sabe quanto é. Se o micróbio se mexe dentro de mim, se a vida se incomoda da vida que se leva hoje e deseja se elevar a infinidade que ela pode ser, nada mais justo que subir as nuvens e sentir um pouco do seu mistério, e é então que me parece que desenferrujo e desmancho um pouco da máquina que instalaram em mim, meus movimentos são os que desejam ser, não apenas um aceno, um adeus, um passo ou um trabalho empenhado. Claro que conheço as limitações do corpo, mas desconheço limitações para este mistério que deseja todos os dias acontecer em mim.

quinta-feira, 23 de maio de 2013

sonâmbulo

Esse tempo de urgências...
As urgências esfarrapam os acasos
E ensandecido é aquele que tomou tempo
Numa espécie de limbo
Onde tempo é contado e cronometrado
Não se passa, corre
Não venta, faz vendaval
O que dorme é interrompido
Vira sonâmbulo, perdido
Tic tac, ele conta
E não se ultrapassa as horas de sono mal dormidas
Passante com sono
Sonambulando em encontros
Em meio a tantos desencontros
Mesmo inconsciente
O inconsciente faz lamentar
E na remela da manhã adiantada
O que passa pelo tempo não tem tempo para nada
Quando desperta
Continua sonâmbulo
No deserto de insônia
Onde o sonâmbulo é mera representação
Do tempo contado, do chão pisado
Do trabalho empenhado
Sonâmbulo não tem tempo de despertar
Quando dorme, morre
Quando acorda, vagueia
É como se nem tivesse sangue na veia
Gelado o sangue, parece que o sangue parou
Sem se dar conta do atraso acometido
O sonâmbulo cambaleia
No pêndulo, onde, ora pende entre as verdades, ora pende com sono
O sonâmbulo é uma alma adormecida
No corpo de uma noite mal dormida