quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Sou poema sem voz
Sou mágoa, sou algoz
Tiro licença e escrevo aqui
Aqui é meu lugar de romântico e sádico
De desumano e egoísta
Não quero nada pra ninguém
Quanto à poesia
Eu escrevo,
É meu bem
E só a palavra pode me penetrar

terça-feira, 16 de outubro de 2012

o fardo do homem

Carrego o peso do sono nas pálpebras. Elas se fecham lentamente e de repente se apaga. Cinco minutos depois desperto dos minutos que pareciam mais lentos. Sou irrompido pela culpa de desperdício de tempo. Cinco minutos e toda uma parcela de informação diária já foi para o espaço se autorreciclar. Um seguimento frenético e ao mesmo tempo buscando estabilidade, sem livre acesso, sem permissão de conhecimento. Daí desses cinco curtos minutos o que se ocorre é o que não sei, mas prevejo porque sei que os acontecimentos se reciclarão daqui pra frente. E daqui pra frente...

Então por que estamos em ritmo frenético? Eis que todos nós estamos correndo para o sorvedouro, o abismo do que virá. Mas o que virá eu não sei e acho que nunca darei devida atenção se continuar correndo. E nesse período, -tal que somente sei relatar porque vivo em sua constância- é denso, denso, pois você é pego de surpresa e, pelo atraso que estamos acometendo nossa própria vida, não há tempo pra passar pelas etapas com a calma devida.

A incerteza é maior do que em qualquer outro momento. Um tempo de escassez aonde a tristeza cobria cada pequeno espaço num vago que se fez na minha mente. O cinza é memorável e de resto não é de tanta importância me recordar. Não intenciono vírgula em texto. Não ambiciono, mas também não abandono o que só posso lembrar e não me preocupar ou me incomodar. A neblina densa de dor de cabeça se instala. O que tinha como responsabilidade minha nunca fora, na verdade, e nunca será. Deslizo agora no decorrer da vida com um lembrete grudado na testa: inconstante. Um olho enfático das coisas que eu sei se abre e lá está o fruto do que realmente é uma semente, uma raiz e unidade. Não sei como me libertar das correntes dos costumes, essa que me acompanha por tantos anos e de repente voltei minha atenção a ela. De repente deixar de acreditar em tudo é uma alternativa mais palpável, porém, muito mais triste. E o de repente se faz dentro de um período linfático, de doença e amargura insuportável. Tudo é desagradável demais, tão desagradável que desprezo. Um maremoto de mim me arrebata, me ricocheteia pra beira-mar, me espanta, me espanca, me arranca com uma dor de cólica do lugar aonde nunca pertenci, aonde as circunstâncias cada dia mais burocráticas se tornam tédio materializado e a minha própria irrealização antiga em ser. Pois é tão difícil, tão atormentador que jamais deixará de ser, é constante e irredutível, porque se a prática fosse, nesse caso, tangível de estratégia e pudéssemos burlar, não seria tão sofrível.

Escrevo no decorrer dos dias e atendo as necessidades dentro das horas.

O que atribuíram a vida me cobram hoje como resposta ao mundo. Mas o mundo mesmo não me exige nada além de viver. A pressa invadiu os corações enquanto as sutilezas da natureza ocorrem de maneira calma por um caminho harmônico em sua própria finalidade. A guerra silenciada na boca dos ignorantes corre e voa pelos espaços ansiando demarcar e tornar privado o que sempre foi de todos como graça de nossa Natureza. Essa guerra aonde o que explodem são nossas cabeças com ocupações, preocupações e uma infindável busca por solucionar um problema inexistente e ao mesmo tempo irrealizável de forma que, o que existirá dentre as horas não será você, serão compromissos que exigem esforços de corpos doentes e cansados. Nos dispersamos de nós mesmos para tomarmos as dores que não é do mundo, nem nossa, mas de vigilantes da ordem/caos e da nossa privacidade, que não deseja te oferecer nada além que esforço diário e remuneração para que com os esforços que empregamos em nossas ambições(sempre irrealizáveis) consumamos em lojas de 1,99, varejo e atacado.

A vida, que não precede a nada mais que ela mesma, não se recolhe e nem se anula, mas nós a esquecemos no ato das vontades estúrdias, de realizações imediatas e conquistas de poder. Logo se sabe da inquietação da massa, já que cada vez se torna mais visível e desprezível a corrida pela concretização de sonhos miseráveis que não são nem nunca foram, de fato, fruto de nossa vontade ou idealização. Compramos a ideia de vida e felicidade em vitrines e concessionárias de automóveis. E enquanto observamos o absurdo acontecer, nos tocamos e afinal vemos a nós mesmos, dessa vez, negando-se a explorar e pagar caro por uma ideia de viver uma vida que não é nossa, nem é satisfatória e é nula em torno de si mesma, já que não existe outra forma de nos fazermos acontecer senão buscando estar dentro de nós mesmos.