sábado, 15 de março de 2014

Penso nada,
Penso alto
Junto às memórias
E ao que se é sentido.
E tento deixar-me fazer
A comunhão do que se pensa
E o que se sente.
São apenas um.
E o penso como dois
Saberes da minha alma.

Mas sinto minha alma
Como sendo uma,
Que se desdobra
No acontecer das emoções,
E no que penso delas.

Porque sentir
Confunde o que vejo do mundo,
Que não sou eu,
Eu é que o sou.
Sou-o junto dos sentimentos
E dos pensamentos.

Será que sinto com os olhos?
Porque ver me ocasiona tudo
As coisas, findas ou não,
O tempo, as árvores,
As árvores tão verdes
E também as mortas.

Será que vejo a morte?
Ainda que pense que sim,
Não a penso com clareza,
Por não haver clareza
Ao enxergá-la.

Num só fôlego
Me cabem todas as coisas.
E o externo,
Como uma plantação de cana
Que assovia com o vento,
Sequer sabe
Da minha existência.

Mas ainda assim,
Cá está ela ao meu lado
A cana, assoviando
Em comunhão com o vento.

O vento,
Que também ignora a cana
E a minha existência
Passa...
E traz consigo,
Neste gesto de passagem pelas coisas,
Poeira, pingos e folhas,
E um gavião,
Que deixa sobre meus pés
Uma de suas penas.

Será que quis esse vento,
Essa cana,
Esse gavião que sai da cana,
Entregar verdadeiramente algo à mim?

Não acredito, porém
Mas sinto,
Como quem sente e não se dá pelo pensamento,
Que sou coisa passageira como o vento,
As árvores verdes,
Os pingos,
O gavião trazido pelo vento,
A pena e as coisas,
E se me foi deixado aos pés uma pena
É porque,
Ali, também passei.