quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

"preciso aprender a só ser"

Manhã de qualquer dia. Levanto-me da cama e me espanto. - Aonde eu estou? Quem é esse refletido no espelho? De quem são essas coisas? Pra onde eu devo ir agora? - Questionei tudo o que mudara. - O que aconteceu ao meu quarto? E quanto ao meu rosto?

Algo mudou na forma como eu vejo a vida, disso não tenho mais dúvidas. Mas ainda é confuso, sinto do que se trata, tentando aprender a lidar, indo, por fim, na aceitação, em direção a essa nova perspectiva. Me sinto condenado a esta verdade. Minha confusão, na verdade, é porque não sei, de fato, quando isso se iniciou. Vi e senti indícios desse meu novo agora, mas nunca me prendi tanto a tantos sinais.

Sentir, a flor da pele, dos pés da cabeça, que eu existo, que faço parte do todo mas também que sou um só, estando sozinho, dentro do meu corpo, existindo pela minha própria existência, pela minha própria alma. Nisso, me confundo, mais uma vez, em saber como me sinto, se estou bem ou mal. Não dá pra definir, a carga energética oscila e dessa forma, sim, eu sinto, mas também oscila sem que possa/consiga dizer exatamente do que se trata esse oscilamento. Tenho a sensação(sinto que falarei muito e quase que somente de sensações), também, de sonho acordado, como se fosse fumaça a realidade, parecendo estar, assim, em um sonho. Minha visão não está turva, ela está clara, pois só digo o que digo me baseando no que vejo e sinto a partir disso. Aí está outra, o que vejo e o que sinto, o que me causa a visão, é tão difícil dizer... pois é tão pessoal, é de uma intimidade e individualidade intransferível, chega ser apavorante, por saber que este sentimento é único, difícil de se expressar e só o vive quem vive também da experiência. Só o vive quem desperta. Esse termo, despertar, vem de um livro que retrata um pouco o que eu estou incansavelmente tentando buscar para escrever há dias e, já que quero me expôr e expôr todo meu sentimento e tudo o que penso sobre isso, devo falar desse livro também, que me causou confusão, mas hoje eu crio sentido pra ele, na busca de sensações parecidas vivenciadas por outras pessoas. Livro Demian, de Hermann Hesse, não posso esquecê-lo, mesmo tendo o lido como uma lição de 'moral' e hoje não ter muito haver com isso. Dizendo assim, citando este livro em especial, parece que esse despertar se inclina para o espiritual(o que não descarto, já que vivo dessas possibilidades de sensações e de sinais que vem da vida e do meu interior), mas também sinto na pele, até no peso do meu corpo, nas minhas feições. Sim, existe o mistério do Eu e, de alguma forma, sinto-me rasgar o desejo de ir de encontro a ele, pois não consigo mais imaginar minha vida no futuro sem tal conhecimento e também não consigo conceber que isto seja apenas uma coisa minha, mas que a todos acontecerá e, pelo mistério da vida, o tempo é, como sempre foi, indeterminável.

Sei também que esse é um novo caminho, mas agora eu estou indo em direção ao meu próprio interior. Tentando passar pelo pavor e pelos estágios de euforia, inclinando minha vontade pro bem, o bem que também sinto, entre tantas coisas que são sentidas, nessa caminhada. Essa é uma cortina de fumaça com várias formas abstratas. Sinto que essa é a redenção da vida que levei até agora. Aqui começa, mas não se encerra. Imaginando-me fora do meu corpo, vendo o outro eu semelhante, mas totalmente desconhecido. Minha figura que jamais havia despertado e agora quer se fazer presente, por isso tudo está tão diferente.

É pela manhã que percebo, todos os dias, que estou sozinho. Conforme o dia se passa, junto das horas, esse sentimento e verdade vão sendo encobertos pelo barulho e pelas pessoas que, como se eu estivesse colocado uma música em modo rápido, vão passando. Os sonhos da noite se assemelham com os mesmos personagens do dia-a-dia. E mesmo assim, pra que tenha lugar deste sentimento encoberto, as sensações começam a aparecer, às vezes quando olho para o céu, pela manhã, às vezes somente pelos sinais que nos dias vão surgindo. Às vezes, também, são sensações que duram dias, semanas. Como explicar isso? É vida, oras. É assim que ela sempre foi, mas por dispersão, pelos outros olhos que usara um dia como uma porta de entrada, deixei ocupar-me de fora e dos de fora. Mas os olhos não são portas de entrada pra alma, a porta secreta velada pelo meu corpo tá dentro. E aí não se fala mais em localização, pois enquanto digo isso perco todas as diretrizes. Tudo o que eu digo quanto a sensações pode ser facilmente confundido por sintomas de acontecimentos rotineiros, como pela noite, enquanto me deito, sou ocupado pelo meu próprio espírito e o sinto, querendo, sem possibilidades de resgate, sair do enclausuro que firmou com meu corpo, na vontade de sair da pele, fugir daquela prisão, que carrego para todos os lados e para sempre até a morte, uma ultra sensibilidade é sentida também na pele. Podem ser indícios de um espírito afugentado, agora, querendo fugir.

Os sonhos também vão ficando cada vez mais próximos. No enredo, nada real. Quanto aos personagens, meu espanto, fico estarrecido de despertar e sentir que vi muito de alguém que nunca vi. Eles se tornam mais reais pelas sensações na manhã. Claro, junto à solidão fatídica. Eu nunca me senti tão só. Talvez por isso esteja usando isso como um diário. Um resumo do que vi, a partir do que sinto nesse momento. É uma pena mesmo não poder ter descrito tudo o que senti enquanto isso pulsava fortemente dentro mim. Mas mesmo dessa forma, falando da memória de algumas sensações, agora me habitam outras. Incomparáveis, sempre incomparáveis.

Não se trata de ser alguém. Trata-se de ser eu mesmo. Já se deram conta de si mesmos? É mais ou menos isso. Em tanto tempo, caiu a ficha que eu nasci, que estou vivendo e que vou morrer. Mais do que isso, caiu a ficha que só dou conta do agora. Somente o agora está em minhas mãos. Voltando ao meu ser, sinto como se tivesse olhado no espelho do meu interior e visto o mais secreto de mim, o Eu Superior, talvez. Agora é impossível escapar de qualquer possibilidade, exatamente por serem possíveis. Mesmo se tratando do meu eu interior, os sinais são vistos com meus próprios olhos, que estão na cara, claro. Porém, só digo que vejo porque sinto o que vejo, senão seria somente mais uma banalidade que passou sem eu perceber. E acho que é mesmo assim, falamos do que sentimos, a partir do vemos, mas sempre do que sentimentos e pensamos.

Eu acho que morri, uns dias atrás e, também nas sensações, renasci pra esse mistério que a vida se mostra todos os dias. Um mistério ora fascinante, ora sufocante, pelo medo que existe em nós e que, quando indo de encontro com o que há nas suas profundezas, você o vê lá, que sempre esteve lá, por sinal. Espiral de fumaça é o que se tornou meus velhos dias, e se tornam todos os dias quando desperto de um sono profundo. Ainda com tudo isso que sinto, é difícil não deixar a dispersão tomar conta às vezes, e o interessante é que antes tudo era isso, agora, de alguma forma, por impulso, quero fugir. Sem desespero, já que esse só me deixa desnorteado e de mãos atadas. O que eu digo não terá fim, já que estou nesse caminho que não tem ponto de partida nem linha de chegada, por não ser uma corrida, acho que por não ser nada que se dê nome e que seja tão consistente e palpável pra se encerrar.

Gil, iluminado, escreveu, cantou e tocou uma canção(e um disco) a qual me aflora esses sentimentos:

“Sabe, gente.
É tanta coisa pra gente saber.
O que cantar, como andar, onde ir.
O que dizer, o que calar, a quem querer.
Sabe, gente.
É tanta coisa que eu fico sem jeito.
Sou eu sozinho e esse nó no peito.
Já desfeito em lágrimas que eu luto pra esconder.
Sabe, gente.
Eu sei que no fundo o problema é só da gente.
E só do coração dizer não, quando a mente.
Tenta nos levar pra casa do sofrer.
E quando escutar um samba-canção.
Assim como: "Eu preciso aprender a ser só".
Reagir e ouvir o coração responder:
"Eu preciso aprender a só ser."

domingo, 3 de fevereiro de 2013

buscar

Metade metade
Da mesma parte
No interior, sonhar
Pra só assim acordar
Na sensação de nascimento
Crescimento
Descobrimento
Nas veias da raiz que só sabe procurar e procurar
E a todo o momento encontrar
Terra, o que precisar
Indo a fundo
No interior do mundo
Pulsando no profundo
Afundando no fofo da terra
Guerrilhando, em sua própria guerra
Contra as minhocas no seu caminho a passar
Com a força que tem pra brotar
A flor que busca o sol
E a raiz que continua a buscar